WASHINGTON (Reuters) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira que pode conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em algum momento, depois de anunciar nesta semana a imposição de tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA a partir de 1º de agosto.
“Talvez em algum momento eu fale com ele, mas agora não”, disse Trump a repórteres ao deixar a Casa Branca para visitar o Estado do Texas, devastado por enchentes.
Em carta enviada a Lula na quarta-feira anunciando a taxação de 50% sobre os produtos brasileiros, Trump vinculou a medida à sua insatisfação com o tratamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem recebido do Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras questões.
O presidente norte-americano já havia saído em defesa de Bolsonaro na segunda-feira, ao escrever em publicação em sua rede social que o ex-mandatário brasileiro era vítima de uma “caça às bruxas” e pedindo para deixarem-no “em paz”.
Bolsonaro é réu em julgamento no STF sobre a tentativa de um golpe de Estado para impedir que Lula assumisse a Presidência.
Trump novamente mencionou Bolsonaro nesta sexta-feira. “Estão tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta. Ele é um bom homem, sabe, eu o conheço bem. Negociei com ele. Ele era um negociador muito duro. Posso garantir. Ele era um homem muito honesto e amava o povo brasileiro”, disse.
Em resposta à carta de Trump, Lula disse que seu governo primeiro irá buscar negociar com os EUA sobre a ameaça tarifária, mas alertou que adotará a reciprocidade caso essas conversas não deem frutos.
“Não tenha dúvida que primeiro nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% deles”, disse Lula em entrevista à TV Record.
Lula também afirmou que o Brasil é um “país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”.
A ameaça de Trump às exportações brasileiras também foi criticada nesta sexta-feira pela China, principal rival geopolítico de Washington e maior parceiro comercial do Brasil.
“Tarifas não devem ser usadas como ferramenta de coerção, intimidação ou interferência em outros países”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em uma entrevista coletiva em Pequim.
Cerca de 12% das exportações do Brasil vão para os EUA, enquanto a China responde por cerca de 28% das remessas ao exterior.
Também nesta sexta-feira, o Ministério da Fazenda apontou que o impacto da tarifa de 50% dos EUA, se efetivada, deve ser concentrado em alguns setores específicos e influenciar pouco a estimativa de crescimento em 2025, segundo boletim da Secretaria de Política Econômica (SPE).
(Reportagem de Nandita Bose e Doina Chiacu, em Washington; reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São Paulo)