Por Fabricio de Castro
(Reuters) – As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em alta no Brasil, descoladas do exterior, com investidores acertando posições antes de eventos e indicadores econômicos importantes na semana e reagindo negativamente à imposição de novas sanções dos EUA contra autoridades e a esposa do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Mais do que as sanções contra pessoas físicas, os agentes demonstravam preocupação de que possa haver nova escalada de retaliações ao Brasil, um dia antes do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia da ONU.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2027 estava em 14,04%, ante o ajuste de 13,981% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2028 marcava 13,33%, ante o ajuste de 13,254%.
Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,415%, ante 13,302% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2032 tinha taxa de 13,5%, ante 13,388%.
As taxas futuras subiram no Brasil desde o início da sessão, dando continuidade ao movimento de ajuste iniciado na semana passada após as decisões sobre juros do Banco Central e do Federal Reserve.
Estes ajustes de posições — vistos também nos mercados de câmbio e ações — ocorreram antes de uma bateria de dados e eventos nesta semana.
Entre eles estão a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça-feira, o IPCA-15 de setembro e o Relatório de Política Monetária do BC, ambos na quinta-feira. Nos EUA, destaque para dados do Produto Interno Bruto (PIB), na quinta-feira, e para o índice PCE, na sexta-feira.
Os ajustes de alta na curva brasileira se intensificaram no fim da manhã, após notícia de que os EUA decidiram sancionar sob a Lei Magnitsky Viviane Barci de Moraes, esposa de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram impostas sanções ao Lex Instituto de Estudos Jurídicos, uma entidade controlada por Viviane Barci de Moraes e outros integrantes da família.
Moraes foi o relator do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado, no qual foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão.
No início da tarde a Reuters informou que o governo dos EUA decidiu revogar vistos do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de cinco outras autoridades atuais e antigas do judiciário brasileiro.
Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que as medidas contra autoridades e familiares não atingem diretamente a economia brasileira, mas elevam o temor de que os EUA possam anunciar novas medidas contra a economia do país. Em julho o presidente dos EUA, Donald Trump, definiu uma tarifa de 50% para uma série de produtos brasileiros, citando como justificativa o julgamento contra Bolsonaro, seu aliado.
O temor de mais medidas contra o país se justifica ainda pelo fato de que na terça-feira Lula discursará na Assembleia da ONU, em um possível primeiro encontro com Trump desde que as sanções começaram.
Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu a máxima de 14,060% (+8 pontos-base) às 11h43, quando a sanção à esposa de Moraes já havia sido divulgada.
Durante a manhã, investidores se mantiveram atentos ainda aos comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente da Câmara, Hugo Motta, durante evento do PTG Pactual em São Paulo.
Haddad defendeu que, para o arcabouço fiscal ser fortalecido, é necessário criar condições políticas para tratar com os parlamentares sobre ajustes de regras. O ministro disse ainda que não vê uma norma fiscal melhor que a do arcabouço e defendeu o combate de “desperdícios” com o avanço de propostas que já estão tramitando no Congresso.
Motta, por sua vez, afirmou que a proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$5 mil será pautada no plenário possivelmente na próxima semana. O parlamentar disse ainda que a isenção, sem que haja medidas para compensar a perda de arrecadação, seria algo “negativo”.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava em 100% a probabilidade de manutenção da Selic em 15% na próxima reunião do Copom, no início de novembro.
No exterior, em uma sessão de pouco volatilidade, os rendimentos dos Treasuries se mantinham próximos dos níveis de sexta-feira. Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — subia 1 ponto-base, a 4,147%.