A busca por modelos produtivos que conciliem eficiência agrícola, preservação ambiental e sustentabilidade socioeconômica tem levado ao fortalecimento do conceito de sistemas saudáveis de produção. Esses sistemas não se restringem apenas à manutenção da produtividade das lavouras, mas se orientam por um conjunto de práticas que garantem equilíbrio ecológico, uso racional dos recursos e benefícios de longo prazo para a sociedade. Em sua essência, trata-se de compreender que a saúde do sistema produtivo depende da saúde do solo, da água, da biodiversidade e das comunidades humanas que dele fazem parte.
Três fundamentos se destacam na caracterização desses sistemas. O primeiro é a eficiência no uso dos recursos naturais, que implica empregar o solo, a água, a energia e os insumos de modo racional, evitando desperdícios e prevenindo a degradação. Essa eficiência se traduz em práticas como o plantio direto, a rotação de culturas, o manejo adequado da irrigação e a utilização de insumos biológicos, sempre buscando reduzir o passivo ambiental e maximizar o retorno do que é investido.
O segundo fundamento é a conservação ambiental, entendida como a manutenção da biodiversidade, da qualidade da água e da estrutura do solo, elementos indispensáveis para a continuidade dos serviços ecossistêmicos. Sistemas saudáveis de produção devem ser capazes de manter o equilíbrio entre áreas de uso agrícola e áreas de proteção, valorizar a vegetação nativa, estimular a diversidade de espécies cultivadas e adotar práticas que impeçam a erosão e a contaminação difusa. Essa conservação é, ao mesmo tempo, condição para a resiliência do sistema e expressão de responsabilidade intergeracional.
O terceiro fundamento é a continuidade socioeconômica, ou seja, a capacidade de assegurar produtividade, rentabilidade e bem-estar ao longo do tempo. Não basta produzir hoje se, para isso, comprometerem-se as condições de produção do amanhã. A lógica da continuidade envolve tanto a sustentabilidade financeira da atividade agrícola quanto a permanência digna das famílias no campo, garantindo inclusão social, geração de renda e qualidade de vida.
O elo que integra esses três fundamentos é a gestão do carbono. A dinâmica do carbono sintetiza as interações entre eficiência, conservação e continuidade. Quando o solo é manejado para aumentar o teor de matéria orgânica, ocorre simultaneamente maior eficiência no uso de nutrientes, fortalecimento da biodiversidade edáfica e maior capacidade de retenção de água. Da mesma forma, o sequestro de carbono atmosférico no solo contribui para reduzir os efeitos das mudanças climáticas e valorizar economicamente a produção, atendendo às novas demandas de mercado e às políticas públicas ambientais.
Além disso, a gestão do carbono atua como uma métrica integradora. A emissão, o sequestro, a conservação do carbono armazenado e a comprovação de resultados permitem avaliar objetivamente o desempenho dos sistemas produtivos sob os três eixos fundamentais. Dessa forma, o carbono deixa de ser apenas um elemento químico do ciclo da vida e se torna um indicador estratégico de sustentabilidade.
Em síntese, sistemas saudáveis de produção são aqueles que unem eficiência, conservação e continuidade por meio da gestão do carbono como variável central. Eles representam o caminho para uma agricultura capaz de nutrir o presente sem esgotar o futuro, promovendo equilíbrio entre produtividade, resiliência ecológica e responsabilidade social.
* Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – IAC.