Às vésperas do dia 1º de agosto, quando começariam a valer as tarifas de 50% para importação de produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos, alguns dos setores mais afetados por este cenário seguem preocupados e mobilizados buscando soluções.
É o caso da manga, que segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas), os Estados Unidos absorveram 14% do volume de mangas exportadas pelo Brasil em 2024, o que correspondeu a 13% do faturamento total da fruta no mercado externo. Considerando todas as frutas, o país representou 7% do volume exportado e 12% da receita total do setor no ano passado.
Para 2025, cerca de três mil contêineres da fruta já estão programados para embarque rumo ao mercado norte-americano e a implementação das tarifas pode trazer grande impacto negativo ao setor.
“Estávamos com a expectativa de exportar quase três mil containers de manga nesta próxima safra. Agora, os produtores estão inseguros e temorosos, pois já se organizaram para exportar para os Estados Unidos. Compraram as embalagens, acertaram com os distribuidores. Não é possível redirecionar essa produção para a Europa ou mercado interno sob o risco de colapsar os dois mercados”, alertou o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho.
Coelho, juntamente com lideranças de outros setores e representantes governamentais buscam agora alguma solução. Uma possibilidade que surge é que a manga, juntamente com outros alimentos não produzidos pelos Estados Unidos, possa entrar em uma lista de exceções às tarifas.
“Não é justo e razoável taxar alimentos. A aplicação de 50% nas tarifas trará prejuízos enormes para os dois países. Os americanos poderão ter que lidar com escassez de alimentos, inflação dos preços e até desemprego, já que a indústria de lá compra matéria prima brasileira para beneficiamento”, destaca o presidente da Abrafrutas.
Na última terça-feira (29), o Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, deu indicativos de que alguns produtos que não são fabricados internamente, como manga, cacau, café e abacaxi, poderão ter isenção de tarifas.
“Os Estados Unidos não produzem esses produtos. Então, poderiam entrar com tarifa zero”, disse em entrevista a CNBC Internacional.
Apesar dessas possibilidades, ainda não há um avanço definido, o que mantêm o setor da manga no Brasil em alerta máximo.
“Nós não temos nada concreto. Existe essa ideia que chegou até lá em Washington, em que o secretário de comércio dos Estados Unidos sugeriu que alimentos como café, suco de laranja, frutas, em geral, o que for de alimento, a taxação fosse zero, porque a gente está falando de comida. Mas de concreto por parte dos produtores nada. Então a gente segue aguardando o que é que vai ser feito em relação a essa tarifação”, relata Cézar Libório, consultor técnico que atua na cultura da manga na região do Vale do São Francisco.
Libório destaca ainda que, os produtores da região estão com tudo preparado para realizar as exportações conforme o programado anteriormente. “Toda a parte de logística já foi paga, caixaria, tudo pago. Então os produtores estão organizados, já se planejaram em relação à safra”.
Caso não haja algum acordo, os impactos podem ser muito severos para o setor brasileiro.
“Não é possível redirecionar essa produção para a Europa ou mercado interno sob o risco de colapsar os dois mercados”, afirma Coelho.
“A gente está falando de empregos, de desemprego. a gente está falando também de preço baixo, porque essa manga tem que ser colocado em algum lugar, então a gente realmente está muito temeroso”, alerta Libório.