Safra maior na Índia e Tailândia pressiona preços do açúcar, enquanto clima levanta preocupações para safra brasileira 26/27
Os preços do açúcar nas bolsas de Nova York e Londres seguem pressionados negativamente nesta semana, refletindo principalmente a boa performance das safras asiáticas, em especial de Índia e Tailândia. A avaliação é de João Baggio, Diretor-presidente da G7 Agro consultoria, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Segundo Baggio, apesar da perspectiva de quebra na safra brasileira, com menor quantidade de cana disponível para moagem, a produção robusta na Ásia tem garantido oferta ao mercado global e contribuído para a queda das cotações. “A Tailândia vem incrementando sua produção em cerca de 1 milhão de toneladas por ano, enquanto a Índia deve registrar um aumento nas exportações de açúcar neste ciclo”, destacou.
No lado da demanda, o consultor relembrou que, em 2024, os preços foram sustentados pela queda na produção asiática e na União Europeia, o que levou o açúcar a patamares próximos de 19 a 20 centavos de dólar por libra-peso. Isso permitiu que muitas usinas brasileiras fechassem contratos de exportação em valores atrativos.
“Mesmo com as cotações atuais em torno de 15 a 16 centavos, a safra brasileira continua sendo mais açucareira do que alcooleira, porque esses contratos firmados no passado ainda garantem boa rentabilidade”, explicou Baggio.
Outro ponto destacado foi o avanço do etanol de milho no Brasil, especialmente diante do aumento da mistura obrigatória na gasolina para 30%. O Diretor explicou que essa nova demanda será atendida, principalmente, pelas usinas de milho, já que as unidades do Centro-Sul priorizam a produção de açúcar neste ano. “O etanol de milho vem crescendo acima de 10% ao ano e terá papel fundamental para suprir o mercado”, afirmou.
Apesar da solidez nas exportações, a preocupação maior no campo segue sendo o clima. A seca prolongada, que já ultrapassa 100 dias em algumas regiões produtoras, aliada a temperaturas elevadas e episódios de geada, deve reduzir a produtividade em até 15% por hectare nesta safra. Baggio alerta que os impactos podem se estender também para os próximos ciclos.
“Estamos diante da possibilidade de um novo normal, em que as chuvas só retornam com força em outubro, e não mais em setembro. Se isso se confirmar, a produção do Centro-Sul pode sofrer perdas estruturais”, avaliou.
Na visão do consultor, mitigar os efeitos da seca exigirá investimentos em irrigação, novas variedades de cana e tecnologia, mas os produtores enfrentam dificuldades diante da falta de reajuste nos preços pagos pela matéria-prima. “Há cinco anos os fornecedores recebem a mesma remuneração pelo ATR, enquanto os custos só aumentam. Isso desestimula investimentos e compromete a renovação dos canaviais”, ressaltou.
Apesar dos desafios climáticos internos, Baggio reforçou que os contratos de exportação firmados pelas usinas brasileiras serão cumpridos. O câmbio, segundo ele, tem menor impacto direto, já que as tradings e companhias do setor costumam adotar mecanismos de proteção cambial (hedge).
“O cenário global aponta para um superávit de cerca de 4 milhões de toneladas de açúcar, mas é preciso lembrar que, na agricultura, um ano nunca é igual ao outro. Qualquer alteração no clima pode mudar rapidamente a oferta e os preços”, concluiu.