Sempre que me mostram um novo projeto, especialmente no setor agropecuário, inevitavelmente começo a pensar: e a mão de obra?
Dias atrás, resolvi fazer uma comparação mental entre aqueles problemas clássicos que tanto ouvíamos e estudávamos na infância no Brasil e os desafios que enfrentamos atualmente. Muitos dos problemas seguem entre os “grandes hits”: má qualidade de serviços públicos básicos como saúde e educação, carência generalizada de infraestrutura, desigualdade social e, é claro, a corrupção.
Por outro lado, alguns desafios do passado praticamente desapareceram, como a emblemática Dívida Externa e a relação tensa com o FMI, temas que ocupavam as manchetes frequentemente. Em contrapartida, novas preocupações passaram a ganhar protagonismo: o agravamento da segurança pública em diversas regiões, o surgimento de crimes virtuais e o crescimento de facções criminosas.
Além disso, fenômenos climáticos extremos agora impactam todas as regiões do Brasil. Antigamente, falava-se sobretudo da conhecida seca do Nordeste. Hoje, os efeitos de eventos climáticos, como El Niño e La Niña, têm se alternado e ocupado as manchetes ao provocarem secas severas, picos de temperatura e grandes enchentes em diferentes partes do país.
Mas existe um problema com crescente destaque e causa de grande preocupação: a falta de mão de obra.
Meus pais são fazendeiros “raiz”, daqueles que moram e operam na fazenda, exercendo diversas atividades, como a pecuária leiteira e de corte, além da agricultura. E qual é a maior preocupação deles? Mão de obra.
Recentemente, fui a uma festa de parentes em uma fazenda no Mato Grosso do Sul, e a reclamação era a mesma. Conheci pessoas que desistiram de tocar a fazenda e optaram por arrendar suas terras simplesmente porque não conseguem manter mão de obra suficiente e qualificada.
Em muitos casos, as fazendas dependem de um núcleo de funcionários antigos que “seguram a bronca” enquanto o índice de turnover (rotatividade) entre os mais jovens é altíssimo. Essa “turma da velha guarda” é muitas vezes mais resistente às mudanças e enfrenta dificuldades para lidar com novas tecnologias, mas acaba sendo o porto seguro de muitos produtores.
E esse não é um problema específico do campo. A reclamação é generalizada. Minha esposa, por exemplo, trabalha com eventos e frequentemente comenta que a idade média dos garçons está cada vez mais alta.
Existem inúmeros estudos e opiniões sobre a origem da escassez de mão de obra, mas, entre tantos fatores complexos, deixo aqui um dado simples para reflexão: Na década de 1950, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) no Brasil girava em torno de 6,2 filhos por mulher.Já em 2010, essa taxa havia caído para cerca de 1,9 filhos por mulher.
Essa queda demográfica drástica tem impactos diretos sobre o mercado de trabalho, ao reduzir o número de jovens entrando no mercado e, em consequência, limitar a oferta de mão de obra nos mais variados setores.
Uma sugestão para o futuro
Longe de apresentar uma reflexão aprofundada para esse problema crescente, deixo aqui uma modesta sugestão a quem quer empreender: cerquem-se de profissionais capacitados para atrair, treinar e reter mão de obra, especialmente antes de iniciar qualquer nova atividade, seja no Agro ou em outros setores.
Afinal, diante de um cenário cada vez mais desafiador, as pessoas continuarão sendo o maior diferencial competitivo de qualquer empreendimento.