O mercado do arroz no Brasil enfrenta um cenário desafiador, marcado pela liquidez mínima e uma postura cautelosa dos agentes envolvidos. Os preços do grão estão relativamente estáveis, mas apresentando uma leve pressão em algumas regiões devido menor demanda.
Segundo o analista de mercado da Safras & Mercado, Evando Oliveira, no momento, as principais entidades do setor estão trabalhando nos bastidores para encontrar soluções que possam trazer um melhor rumo para o mercado. ” Temos os produtores, a indústria e o varejo buscando alternativas para encurtar o máximo possível esse ciclo de baixa que estamos vivendo”, explicou.
Nesta quarta-feira (20), a Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou uma nota orientando os produtores sobre a publicação da Portaria Interministerial MAPA/MF/MDA nº 26/2025, que estabelece os parâmetros para o lançamento do Contrato de Opção e Venda Público para o arroz longo fino em casca, tipo 1, da safra 2024/2025. No comunicado, a entidade ressalta que o atual cenário da orizicultura no Estado é marcado por elevada produção e preços de mercado que não cobrem os custos da maioria dos produtores, e que a adesão ao mecanismo oficial poderia ajudar a reduzir os custos, e tornar o produto mais competitivo no mercado.
“Neste momento, o Rio Grande do Sul precisa ganhar competitividade. Esse é um dos grandes problemas que está reduzindo a demanda, tanto interna quanto externa. Temos aqui do lado o Paraguai, que tem um produto muito mais competitivo, um campo aberto nos principais centros consumidores do Brasil. Então, a Fedearroz vem correndo contra o tempo. Recentemente, a Federação e o IRGA se reuniram com a ApexBrasil para uma reunião com o intuito de buscar novos mercados no cenário externo, visando a ampliação das exportações do arroz. Este é um tema que tem sido muito discutido ultimamente, que o mercado precisa desenvolver as exportações, até como uma maneira de sobrevivência do setor. O mercado interno está muito enfraquecido, o consumo está aquém do esperado. Apesar dos preços bastante atrativos, o consumo não tem respondido como se esperava”, alertou Oliveira.
Essa falta de resposta da demanda mesmo frente bons preços tem mantido a indústria do arroz em uma situação delicada. “A indústria tenta vender em um nível que tenha pelo menos uma situação de empate, mas o varejo está muito duro nas negociações, reportando que o consumo não tem reagido como se esperava. Em termos de estoque, a indústria está relativamente confortável e comprando somente o extremamente necessário, porque sabe que se comprar nos níveis que o produtor está pedindo, não vai conseguir repassar para o varejo e vai acabar acumulando prejuízos”, destacou o analista.
No longo prazo, essa postura retraída dos produtores, que não estão vendendo seus estoques devido aos preços baixos, pode gerar problemas. A produção de arroz no Brasil deve crescer 14% em 2025, segundo estimativas da Companhia para informações sobre agricultura e abastecimento (Conab), graças à melhoria na produtividade e expansão da área plantada. Então, se o produtor continuar mantendo essa postura de forte retenção de oferta, há grandes chances do setor do arroz ir para 2026 com estoques perto de 3 milhões de toneladas, prolongando assim esse círculo de baixa.
“O setor vem buscando reforçar que o produtor deve fazer cotas de investimento, separando ali entre 10% e 20% dos seus estoques, para manter a liquidez do mercado e trazer um certo alívio aos altos estoques que temos agora. A gente não pode perder mais oportunidade, isso que vem sendo reforçado desde o início da temporada, que o setor não pode perder oportunidades. Mesmo que os preços que foram lançados não sejam tão atrativos, é uma oportunidade para enxugar a parte dessa oferta”, orientou ainda o analista.