Diante de um cenário de clima adverso, que vem reduzindo significativamente a produtividade das safras, estoques com níveis extremamente baixos, desequílibrio entre oferta X demanda global, desde o dia 6 de agosto o mercado cafeeiro brasileiro enfrenta mais um grande desafio: a implantação da taxação de 50% sobre as exportações do café do Brasil, imposta pelo presidente americano Donald Trump.
Atualmente, os Estados Unidos são o maior consumidor do café brasileiro, e representam cerca de 1/3 das compras do nosso produto. Segundo o sócio diretor da Pine Agronegócios, Vicente Zotti, todos os cafés que foram embarcados do Brasil aos EUA até o dia 5 de agosto têm o prazo até 5 de outubro para chegar no país, “são dois meses para navegar e abastecer o mercado americano. Então, no curtíssimo prazo, os cafés estão chegando e chegarão ao longo do mês de setembro. Mas, os cafés que deveriam ser embarcados agora estão parados. E os Estados Unidos têm em torno de mais uns 30 a 40 dias de estoque, composto por aquilo que já foi comprado, embarcado e estaria chegando. Porém, o comprador americano segue consumindo seus estoques”, explicou.
Após a implantação da tarifa, muitos compradores americanos estão evitando novos contratos com o Brasil, buscando alternativas como prazos de entrega estendidos ou compra do grão de outros países, para evitar o pagamento de taxas mais altas.
De acordo com informações de uma publicação do portal americano Bloomberg, a torrefadora Zaza Coffee, com sede na Flórida, obtém cerca de um quarto de seus grãos do Brasil e atualmente tem de 14 a 16 semanas de estoque restante. Mas, já garante que após o esgotamento dos estoques, a empresa irá busca substituir o produto brasileiro por de outra origem, como na América Central, Peru e México.
Atualmente, as fontes de café mais próximas para os EUA, em termos de quantidade, seriam a Colômbia, Vietnã e Honduras, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No entanto, o Brasil exporta cerca de 8 milhões de sacas por ano aos EUA, e isso não é facilmente substituído. “O café brasileiro tem uma peculiaridade extremamente importante para a indústria de torrefação americana. Exportamos quase 8 milhões de sacas por ano, e isso não é facilmente substituído de modo algum, não só pela qualidade, mas como pela quantidade, pelo volume. Outro ponto importante é que não houve ainda um repasse formal dos preços ao consumidor americano. A indústria absorveu, nesse primeiro momento, e não repassou ainda nenhum reajuste para o consumidor, até onde a gente estamos acompanhando”, alertou o analista de mercado e diretor da Pharos Consultoria, Haroldo Bonfá.
Embora, em um primeiro momento, a substituição total do café brasileiro ao país americano seja improvável é certo que a tarifação acaba reduzindo nossa competitividade, mas também pode redirecionar fluxos globais de comércio. Uma mudança no fornecimento de grãos brasileiros nos EUA provavelmente desviaria mais desses suprimentos para a Europa, por exemplo.
Para o analista da StoneX, Fernando Maximiliano, a cautela na compra do café brasileiro pelos EUA pode ocasionar uma reordenação das rotas, “ não é uma questão de que o mercado americano vai ficar sem café, na verdade eles estão redirecionando suas demandas. Reduzindo as compras diretas do Brasil, mas comprarão de outros países e a gente, eventualmente, vai estar atendendo os mercados que esses outros países deixariam de atender”, projetou o analista.