Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa fechou com um declínio modesto nesta sexta-feira, em mais um pregão com volume financeiro baixo, refletindo a falta de apetite a risco de agentes financeiros, em meio a preocupações com os reflexos econômicos das tarifas comerciais norte-americanas que devem começar a vigorar na próxima semana.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa cedeu 0,21%, a 133.524,18 pontos, tendo marcado 133.285,09 pontos na mínima e 134.204,42 pontos na máxima do dia. Na semana, ainda conseguiu acumular uma variação positiva de 0,11%. No mês, recua 3,84%.
O volume financeiro no pregão somou apenas R$13,96 bilhões, contra uma média diária de R$20,89 bilhões em julho, que é menor do que a do ano, de R$24,32 bilhões.
O governo brasileiro tem buscado reabrir os canais de negociação com os Estados Unidos, mas até agora sem sucesso, o que tem referendado o clima de cautela na B3 a poucos dias de começar a valer a tarifa norte-americana de 50% para produtos do Brasil, anunciada pelo presidente Donald Trump no começo do mês.
“O Brasil parece ter simplesmente sido abandonado pelo governo americano”, observou o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, em relatório enviado a clientes nesta sexta-feira, citando negociações de Washington com outros parceiros comerciais.
O efeito econômico pode ser severo. A Confederação Nacional da Indústria estima que mais de 100 mil empregos poderiam ser perdidos, potencialmente reduzindo 0,2% do PIB do país. Já a Confederação Nacional da Agricultura projeta que o valor das exportações do setor aos EUA pode cair quase pela metade.
“A cautela permanece entre investidores devido às incertezas nas negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre tarifas, mantendo o mercado em compasso de espera até uma definição mais clara do quadro comercial”, afirmou o especialista em investimentos Bruno Shahini, da Nomad.
Na contramão, Wall Street fechou com novas máximas históricas para o S&P 500 e Nasdaq, amparados pelo otimismo de que os EUA podem em breve chegar a um acordo comercial com a União Europeia.
DESTAQUES
– YDUQS ON recuou 4,69%, após divulgar na noite da véspera mudanças na diretoria executiva, incluindo o anúncio de Rossano Marques como novo CEO a partir de 15 de agosto. Marques, atualmente CFO da Yduqs, substituirá Eduardo Parente, que irá para o conselho de administração. De acordo com analistas do Itaú BBA, a saída de Parente do cargo de CEO não era esperada no curto prazo. Em teleconferência com analistas nesta sexta-feira, a Yduqs adotou uma mensagem de continuidade, segundo a equipe do JPMorgan. COGNA ON subiu 1,14%.
– RAÍZEN PN cedeu 1,99%, em meio a dados da companhia mostrando moagem de 24,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no primeiro trimestre da safra 2025/2026, ante volume de 30,9 milhões de toneladas no primeiro trimestre da safra 2024/25. Chuvas ao longo do trimestre reduziram o ritmo da moagem e limitaram a diluição de custos no período, informou a maior produtora global de etanol e açúcar de cana, uma joint venture entre o grupo Cosan e a Shell. No pior momento da sessão, tocou a mínima histórica de R$1,46.
– VIBRA ON avançou 3,39% e GRUPO ULTRA ON fechou em alta de 2,54%. Em relatório nessa semana, analistas do Santander Brasil chamaram a atenção para dados da ANP mostrando que ambas as empresas ganharam participação de mercado no mês passado, assim como Raízen. No caso do Grupo Ultra, que além dos postos Ipiranga é dono da Ultragaz, há também expectativa para o Programa Gás para Todos, que deve ser lançado no próximo dia 5. Citando uma visão inicial, analistas do UBS BB destacaram que ele apoia uma demanda com baixo risco na frente de recebíveis.
– VALE ON caiu 1,47%, acompanhando os futuros do minério de ferro na China, onde o contrato de mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China <DCIOcv1> encerrou as negociações do dia com queda de 1,11%, a 802,5 iuanes (US$112,01) a tonelada. No setor, USIMINAS PNA perdeu 1,87%, mesmo com lucro acima do esperado no segundo trimestre, com investidores reagindo a anúncio de investimento de cerca de R$1,7 bilhão para modernização e reconstrução parcial da Bateria 4 da Coqueria 2 da Usina de Ipatinga.
– PETROBRAS PN avançou 0,13%, com alta em quatro dos cinco últimos pregões, após perda de 5% na semana passada. Analistas do BTG Pactual destacaram que, com o barril do petróleo Brent, usado como referência de preço pela estatal, sendo negociado acima das expectativas de consenso para 2025 e 2026 e uma série de assimetrias favoráveis, a Petrobras se destaca como uma oportunidade atrativa de “carry trade” para os próximos 12 a 18 meses. Nesta sexta-feira, o Brent fechou em baixa de 1,1%, a US$68,44. No mês, sobe cerca de 1%.
– ITAÚ UNIBANCO PN terminou a sessão com alta de 0,43% e BANCO DO BRASIL ON valorizou-se 0,85%, em pregão sem uma direção única entre os bancos do Ibovespa, com SANTANDER BRASIL UNIT terminando com variação positiva de 0,15%, BRADESCO PN recuando 0,77% e BTG PACTUAL UNIT perdendo 0,25%. Santander Brasil e Bradesco dão início à temporada de balanços do segundo trimestre dos bancos do Ibovespa na quarta-feira, o primeiro antes da abertura da bolsa e o segundo após o fechamento do mercado.