Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista fechou em alta ante o real nesta terça-feira, na esteira de fortes ganhos da moeda norte-americana no exterior impulsionados por temores fiscais, enquanto na cena doméstica o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado ficou no radar.
O dólar à vista fechou em alta de 0,66%, a R$5,4748.
Às 17h14, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,64%, a R$5,512 na venda.
Os movimentos do real nesta sessão tiveram como pano de fundo a força do dólar nos mercados globais diante da aversão ao risco provocada pelo acirramento da preocupação dos agentes financeiros com a situação fiscal nas principais economias do mundo, em particular dos Estados Unidos.
Na reabertura do mercado norte-americano após feriado na véspera, os investidores reagiram negativamente à decisão de sexta-feira de um tribunal de recursos que considerou ilegal a maioria das tarifas do presidente Donald Trump, ameaçando uma importante fonte de receita para o país.
Os receios com a crescente dívida federal dos EUA têm aumentado desde a aprovação de um projeto de lei de cortes de impostos pelo Congresso neste ano, levando membros do governo a defenderem as taxas de importação como uma forma de controlar os déficits por meio da arrecadação.
Os temores fiscais também se estenderam pela Europa, onde os investidores demonstraram receios com a situação fiscal de França e Reino Unido, duas fortes economias cujos desempenhos podem impactar o continente como um todo.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,69%, a 98,318.
Na cena doméstica, o mercado nacional monitorou o início do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça, exibindo preocupação de que uma condenação do ex-presidente possa levar ao agravamento do impasse comercial entre Brasil e EUA.
Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre pontos, à suposta “caça às bruxas” de que Bolsonaro seria vítima. A probabilidade de retaliação contra o Brasil também deixou os investidores mais avessos ao risco neste pregão.
“O tom de cautela… pode surgir novamente com o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF. Isso deve acontecer devido à apreensão quanto a possíveis novas sanções contra o governo brasileiro pelo presidente Trump”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados da Ebury.
Na frente de dados, o IBGE informou que o PIB brasileiro cresceu 0,4% no trimestre de abril a junho, desacelerando em relação à expansão de 1,3%, em dado revisado para baixo, registrada no trimestre anterior.
O resultado confirmou a expectativa de desaceleração da economia brasileira diante de uma política monetária restritiva no país, com o Banco Central sinalizando que manterá a taxa de juros no patamar atual de 15% ao ano por período bastante prolongado.
Na máxima do dia, o dólar atingiu R$5,5009 (+1,14%), às 10h02. Na mínima, a moeda foi a R$5,4402 (+0,02%), às 13h57.
(Edição de Isabel Versiani e Pedro Fonseca)