O Brasil está, indiscutivelmente, atrasado nas suas negociações com os Estados Unidos. E enquanto isso, a maior economia do mundo segue dobrando a aposta e as ações locais continuam a ser limitadas.
“Nós achávamos que os Estados Unidos não iriam escalar, eles já escalaram. Depois da tarifa de 50%, eles lançaram mão da seção 301 falando que o Brasil pode comprometer a competitividade de empresas americanas que atuam no segmento de comércio digital e pagamento eletrônico, fora a história do pix (…) Isso daqui é um lobby das empresas americanas”, explica o professor do Insper e economista especializado em economia internacional, Roberto Dumas Damas.
Dumas explica que dos lados jurídico e políticos, todas as questões que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, Lula e Donald Trump, não há negociação. “Isso não está na mesa do Alckmin”. Já no espectro comercial, será insuficiente ir à OMC (Organização Mundial do Comércio) e de nada adiantará.
“Lula fica ‘patriotando’, entrando com os esquerdistas do Chile, da Colômbia, etc, falando coisas em defesa da democracia. Ora, como se defende a democracia se você manda seu vice-presidente em uma posse do presidente do Irã? Como defende a democracia e se alia à Rússia e à China? Eu acho interessante esses fatos. E isso não precisamos. Precisamos de pragmatismo”, detalha.
Diante dos os setores que já vêm calculando os prejuízos que podem sofrer com todo este ‘patrioteio’ de Lula, como explica Dumas – como é o caso do suco de laranja, cagé, carne bovina, aviação, aço, alumínio, celulose, entre outros – ainda mais importante do que o pragmatismo é essencial a coerência. “Defender a democracia e se aliar à autocracia é uma total falta de coerência do governo Lula”.
A mistura da política com a economia é inevitável e secular, e fica ainda mais evidente no atual momento, e as negociações – inclusive com o setor privado norte-americano, embora tudo passe pela Casa Branca – porém, precisa de cuidado redobrado frente à diferença imensa de potencial econômico dos dois países, incluindo o fato do presidente da República estar falando em política externa quando, na verdade, está trabalhando já por sua popularidade, mirando as eleições de 2026.
“Governo é uma coisa, estado é outro (…) O setor privado está tentando negociar, mas o setor público está colocando ainda mais areia nas engrenagens e prejudicando mais ainda a vontade da Casa Branca de abrir negociações”, complementa Dumas. “As negociações têm que acontecer de forma coerente, sem ideologia. A situação do Bolsonaro, ma minha opinião, colocou ao lado e disse ‘vamos ver o que está acontecendo’, mas meu foco maior aqui é o BRICS”, analisa.