Por Francesco Canepa e Balazs Koranyi
FRANKFURT (Reuters) – O Banco Central Europeu deixou sua taxa de juros inalterada nesta quinta-feira após oito cortes em um ano, aguardando enquanto a União Europeia e os Estados Unidos negociam sobre o comércio, o que pode aliviar a incerteza persistente sobre tarifas.
No entanto, os mercados reduziram as apostas em mais cortes de juros no futuro, uma vez que a presidente do BCE, Christine Lagarde, fez uma aparente avaliação geral otimista das perspectivas econômicas da zona do euro.
O BCE cortou sua taxa de juros para 2% no mês passado, reduzindo-a pela metade em relação aos 4% um ano antes, depois de domar um aumento nos preços que se seguiu ao fim da pandemia da Covid-19 e à invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Com a inflação agora de volta à meta de 2% do BCE e com a expectativa de que ela permaneça lá, as autoridades optaram pela manutenção nesta quinta-feira, no momento em que as negociações comerciais entre a União Europeia e o governo de Donald Trump nos EUA parecem estar em sua reta final.
Reportagens têm sugerido um possível acordo com uma tarifa de 15% sobre as importações de produtos da UE pelos EUA.
“Estamos atentos ao rumo que as negociações estão tomando, (mas) estamos lidando com as notícias um dia de cada vez”, disse Lagarde em uma coletiva de imprensa.
“Quanto mais cedo essa incerteza comercial for resolvida, menos incerteza teremos que lidar, e isso será bem recebido por muitos agentes econômicos, incluindo nós.”
Embora a Casa Branca tenha descartado os relatos como especulação, tarifas de 15% estariam aproximadamente no meio do caminho entre os cenários base e severo do BCE para a economia da zona do euro, apresentados no mês passado, mas mais brandos do que os 30% ameaçados por Trump.
A estimativa do BCE mostrou que as tarifas mais altas dos EUA resultariam em menor crescimento e, dependendo da extensão da retaliação da UE, em inflação na zona do euro no médio prazo.
Até mesmo a projeção básica do BCE de junho, que incorpora tarifas de 10% dos EUA, previu o crescimento dos preços abaixo de 2% nos próximos 18 meses.
Lagarde reconheceu que o cenário incluía a possibilidade de a inflação ficar abaixo da meta, mas disse que isso não é motivo de preocupação.
“Estamos em uma boa posição porque nossas projeções apontam para uma inflação estabilizada na meta no médio prazo”, disse ela, observando que problemas de oferta e transtornos comerciais causados por tarifas também podem se tornar inflacionários.
Essa avaliação otimista levou os rendimentos dos títulos alemães de curto prazo ao maior aumento diário em dois meses, já que os investidores interpretaram isso como um sinal de que outra série de cortes de juros no ano que vem pode ser improvável.
Ressaltando a incerteza, economistas que comentaram o resultado da reunião ofereceram visões bastante divergentes sobre o caminho a seguir, com alguns vendo espaço para mais cortes e outros sugerindo que o próximo passo do BCE poderia ser até mesmo um aumento.
A economia da zona do euro está mostrando alguns sinais preliminares de aceleração, mas o crescimento continua modesto. As empresas, embora ainda otimistas quanto a uma recuperação futura, relatam que estão começando a sentir o impacto das tarifas sobre seus lucros.
Pelo lado positivo, os bancos da zona do euro observaram um aumento na demanda por empréstimos e a incerteza política ainda não se traduziu em uma desaceleração econômica ou do mercado.