O Brasil é referência mundial quando o assunto é agronegócio e produção de biocombustíveis. O etanol e o biodiesel, derivados da cana-de-açúcar e de oleaginosas, respectivamente, ocupam posição de destaque na matriz energética nacional, combinando produtividade agrícola e inovação tecnológica. Mas, por trás dessa força, um protagonista menos conhecido e potencialmente perigoso desperta atenção: o metanol.
Recentes episódios de contaminação de bebidas por metanol em São Paulo reacenderam o debate sobre a toxicidade dessa substância e os cuidados necessários no seu manuseio. Enquanto o etanol é seguro para consumo e uso veicular, o metanol é altamente tóxico e, no Brasil, é produzido principalmente a partir do gás natural.
No agronegócio, o metanol não é apenas um risco potencial, mas também um componente estratégico. Ele é utilizado na produção de biodiesel por meio da transesterificação, processo químico essencial para transformar óleos vegetais em combustível renovável. Assim, mesmo sendo perigoso, o metanol sustenta parte da matriz energética brasileira, atuando nos bastidores de uma indústria que busca equilíbrio entre sustentabilidade e eficiência.
Apesar da expertise histórica do Brasil na produção de etanol e da vantagem de contar com um combustível renovável, fatores como custo, rendimento e disponibilidade do insumo muitas vezes indicam caminhos distintos, obrigando a indústria a equilibrar tradição, inovação e segurança.
Enquanto o país continua a avançar na agenda de biocombustíveis, o desafio é claro: ampliar a produção sustentável sem negligenciar os riscos associados a substâncias químicas como o metanol.
Existem argumentos robustos contra a rota metílica:
Toxicidade: O metanol é um produto químico altamente tóxico. A exposição pode causar cegueira e até mesmo a morte, o que exige protocolos de segurança rigorosos e o torna um perigo latente quando desviado de seu uso industrial.
Origem Fóssil: O metanol utilizado no Brasil é, em grande parte, produzido a partir de gás natural. Isso contrasta com o caráter “verde” e renovável do biodiesel, diminuindo o seu apelo ambiental.
Dependência Externa: Por ser um produto majoritariamente importado, o uso do metanol na produção de biodiesel fragiliza a balança comercial e a segurança energética do país.
Diante dessas desvantagens, a rota etílica, com o etanol nacional e renovável, parece ser a escolha óbvia. A toxicidade do etanol é significativamente menor, e sua produção reforça a cadeia do agronegócio brasileiro.
De acordo com as informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a rota metílica é mais fácil de ser implementada e gera melhores resultados. O metanol é mais reativo que o etanol, garantindo maior velocidade e rendimento na transesterificação.
Além disso, a rota etílica frequentemente exige um maior excesso de álcool, temperaturas mais elevadas e tempos de reação mais longos, o que eleva os custos de produção. A purificação do biodiesel etílico também é mais complexa, já que o etanol favorece a formação de emulsões.
A decisão final da indústria é, em grande parte, determinada pelos preços. Apesar de ser importado, o metanol tem, consistentemente, um custo inferior ao do etanol no mercado. Essa disparidade econômica explica por que a rota metílica domina a indústria de biodiesel no Brasil.