O mercado brasileiro de trigo encerrou a semana em ritmo lento e com baixa liquidez, caracterizado por negócios pontuais. Segundo o analista e consultor de Safras & Mercado, Elcio Bento, tanto compradores quanto vendedores mantiveram-se em posições defensivas, resultando em um cenário de espera.
“O mercado brasileiro de trigo se encontra em uma fase de acomodação, marcada por baixa liquidez e pela espera da safra nova. A postura defensiva dos agentes reflete o ceticismo em assumir posições mais agressivas diante das incertezas que ainda cercam”, avaliou Bento.
A colheita no Paraná avança e tem pressionado os preços do cereal. As indicações de moinhos para o trigo da nova safra no FOB interior variaram entre R$ 1.300 e R$ 1.320 por tonelada, enquanto no CIF, as ofertas giraram em torno de R$ 1.350/t a R$ 1.400/t, a depender da qualidade e prazo de pagamento.
A pedida do produtor permaneceu próxima a R$ 1.400/t, acima da paridade de importação (base Argentina), que foi de R$ 1.385/t FOB Ponta Grossa. A média atual do FOB interior do estado foi de R$ 1.307/t, representando uma queda de 11,1% frente a 2023.
O Deral indicou que 12% da área já foi colhida e a produção projetada é de 2,6 milhões de toneladas, um aumento de 13% sobre a safra passada. Após três episódios de geadas, a preocupação atual volta-se para o excesso de chuvas durante a colheita.
Conforme Bento, a estratégia dos moinhos é aguardar maior disponibilidade do trigo da nova safra, quando a pressão de oferta tende a reduzir os preços e abrir oportunidades de compra mais competitivas. Ele ainda conclui que: “A resistência dos produtores em aceitar os preços atuais e a postura defensiva dos moinhos em retardar compras mostram que ambos os lados buscam negociar em condições mais vantajosas”.
As cotações para a safra velha no Rio Grande do Sul orbitaram em R$ 1.250/t, com liquidez restrita e sem registros de negócios efetivos recentes. Apesar disso, houve reportes pontuais de negócios futuros para a safra nova, com moinhos paranaenses pagando entre R$ 1.150 e R$ 1.160/t no FOB interior gaúcho. A média do FOB interior encerrou a semana em R$ 1.255/t, estável frente à semana anterior, mas com queda de 8,1% no comparativo anual.
A colheita estadual tem previsão de início apenas em outubro, o que contribui para a resistência nos valores de curto prazo. Segundo a Emater-RS, 70% das lavouras gaúchas estão em fase vegetativa e apresentam bom estado fitossanitário.
As boas condições das lavouras podem ampliar a pressão de oferta local nas próximas semanas, e a tendência é de maior liquidez e ajuste nos preços com a chegada dos novos lotes. A paridade de exportação, para que o trigo gaúcho seja competitivo frente ao argentino, está em torno de R$ 1.050/t.
Importações do Brasil caem 9,5% em agosto
As importações brasileiras de trigo em agosto de 2025 totalizaram 493,2 mil toneladas, representando uma queda de 9,5% em comparação com as 544,8 mil toneladas de agosto de 2024. A principal mudança foi a concentração das compras na Argentina, que saltaram de 189,5 mil t para 465,6 mil t, passando a responder por quase todo o volume importado.
Em contrapartida, origens como EUA, Rússia e Uruguai, que haviam fornecido volumes relevantes em 2024, praticamente desapareceram em 2025. No destino interno, houve maior pulverização regional, com estados como Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Pará e Espírito Santo ganhando relevância, além de pequenos volumes destinados a regiões antes pouco representativas.