As restrições impostas por parceiros comerciais do Brasil, após a confirmação de um foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul, pressionaram fortemente o mercado interno de carne de frango em junho. De acordo com o Cepea, as referências da proteína recuaram tanto no atacado quanto na comercialização do frango vivo, atingindo o menor patamar real em quase dois anos.
Na Grande São Paulo, o frango inteiro resfriado foi negociado a uma média de R$ 7,50/kg no mês, uma queda de 13,4% em relação a maio — a variação negativa mais intensa registrada em 18 anos, segundo dados ajustados pelo IPCA de maio/25. A última vez que o preço mensal ficou tão baixo, em termos reais, foi em setembro de 2024.
O cenário também afetou o frango vivo. Com a demanda internacional em retração, as negociações internas perderam força e os preços recuaram de forma significativa. Em São Paulo, a cotação média do animal caiu 12,8% entre maio e junho, fechando o mês em R$ 5,46/kg, conforme o Cepea pontuou.
O Cepea ainda reforçou que o movimento reforça o impacto direto da gripe aviária sobre o setor avícola, mesmo diante de um foco isolado e rapidamente controlado. A expectativa agora é que, com a reabertura gradual dos mercados externos, os preços possam se estabilizar no segundo semestre.
Embora o foco tenha sido isolado e rapidamente controlado, a confirmação do caso levou à suspensão temporária das exportações para mais de 20 países, incluindo importantes mercados como China, União Europeia, México e Coreia do Sul.
A produção doméstica também sentiu os efeitos. Apesar de o Brasil manter crescimento na base anual, houve realocação de volumes para o mercado interno devido à paralisação de embarques.
O setor avícola brasileiro iniciou 2025 com desempenho positivo. No primeiro trimestre, o país registrou o abate de 1,639 bilhão de frangos, um aumento de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior — o que representa 37,17 milhões de aves a mais. Esse resultado marcou o melhor desempenho da série histórica para o período, segundo os dados das Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento foi registrado em 20 das 26 unidades da federação acompanhadas pelo instituto, reforçando a expansão nacional da atividade. Entre os estados, o Paraná manteve a liderança absoluta no abate de frangos, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul — reforçando a força da região Sul como principal polo da avicultura industrial do país.
O aumento no volume de abates reflete o bom momento da demanda, tanto interna quanto externa. O Brasil, por manter o status sanitário de país livre de influenza aviária de alta patogenicidade, segue favorecido nas exportações e atrativo aos mercados internacionais, o que colabora para o ritmo acelerado da produção.
A Scot Consultoria destacou que para o curto prazo, o mercado deve seguir fraco, porém, com boas expectativas com relação à exportação, já que diversos países estão retirando as restrições contra o produto brasileiro.
Demanda
A demanda pela carne de frango foi impactada em meados de maio, após a detecção do primeiro caso de gripe aviária no sistema de produção comercial do Brasil, em uma granja de matrizes localizada em Montenegro (RS).
Segundo o Ministério da Agricultura, a resposta sanitária foi rápida e eficaz: cerca de 17 mil aves foram abatidas e 1,7 milhão de ovos eliminados, seguindo os protocolos internacionais. Ainda assim, o impacto comercial foi expressivo. Em junho, as exportações caíram 23% na comparação anual, somando 314 mil toneladas. O setor estima perdas entre 15% e 25% nas vendas externas nos primeiros 90 dias após o surto, segundo projeções da consultoria Safras & Mercado.
O Itaú BBA destacou que apesar dos impactos, o evento não foi uma grande surpresa, dado que, nos dois anos anteriores, já haviam sido registrados mais de 170 casos em aves silvestres. Esse episódio exigiu a adoção de autoembargos às exportações brasileiras por alguns mercados com protocolos que exigem tal medida, como China e União Europeia.
Após o cumprimento dos 28 dias de vazio sanitário e desinfecção da granja, com reconhecimento ratificado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), que restabeleceu o status de livre de gripe aviária ao país. Contudo, esse reconhecimento não implica desbloqueio imediato, mas fortalece as negociações para reabertura dos mercados, o que acreditamos que não deverá demorar a acontecer.
O banco ainda destacou que, há um ano, um episódio de doença de Newcastle também resultou em bloqueios por diversos países. Embora o Brasil tenha sido reconhecido novamente como livre da doença pela OMSA em outubro, alguns países, com destaque para a China, levaram até sete meses para retirar completamente as restrições.
A carne de frango segue como a proteína animal mais acessível e presente na mesa do brasileiro, mantendo sua posição de destaque frente às carnes bovina e suína. A preferência do consumidor pelo frango está diretamente ligada ao seu custo mais baixo, o que sustenta uma demanda interna consistente.
No mercado externo, as projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam para um crescimento relevante nas exportações brasileiras em 2025. A estimativa é de um incremento de 4%, o que elevaria os embarques do Brasil para 5,09 milhões de toneladas em equivalente carcaça — superando as 4,89 milhões de toneladas exportadas em 2024. Com isso, o país deve continuar como um dos principais fornecedores globais da proteína.
A produção nacional também deve acompanhar esse movimento, com alta prevista de 1,7%, totalizando 15,25 milhões de toneladas em 2025. No mesmo sentido, a China — um dos maiores produtores mundiais — deve registrar um aumento de 1%, alcançando 15,5 milhões de toneladas em 2025, frente às 15,35 milhões de toneladas produzidas no ano anterior.
Por outro lado, as importações de carne de frango tendem a apresentar comportamentos distintos entre os países. A China deve reduzir suas compras em 9,9%, enquanto o México deve ampliar em 4,8%, saltando de 1,02 milhão para 1,07 milhão de toneladas. A Arábia Saudita também aparece como mercado em expansão, com previsão de aumento de 3,8% nas importações, totalizando cerca de 6,30 milhões de toneladas — embora o número ainda seja inferior às 6,07 mil toneladas registradas em 2024.
No consumo doméstico, a tendência é de estabilidade com leve crescimento. O USDA projeta um avanço de 0,5% no Brasil, com o consumo passando de 10,11 para 10,165 milhões de toneladas. A China deve seguir no mesmo ritmo, alcançando 15,13 milhões de toneladas consumidas. Já o Japão aponta um crescimento mais expressivo, de 1,5%, com previsão de consumo de 10,6 milhões de toneladas em 2025.
O cenário confirma a força da carne de frango tanto no mercado interno quanto externo, com o Brasil se consolidando como um dos principais players globais da cadeia avícola. A combinação de preços competitivos, produtividade e demanda crescente reforça a importância estratégica do setor para a balança comercial e a segurança alimentar.
De acordo com as informações do Itaú BBA, a continuidade do protagonismo internacional dependerá do rigor na biossegurança, da prontidão na resposta a novos focos e da articulação entre setor privado, governo e diplomacia comercial.
“Episódios como este reforçam a importância da gestão financeira robusta, com destaque para a preservação da liquidez e da flexibilidade operacional, permitindo às companhias atravessar períodos turbulentos com maior resiliência e capacidade de resposta. A experiência recente mostrou que eventos sanitários imprevisíveis, ainda que pontuais, podem gerar impactos imediatos sobre exportações, formação de preços e fluxo de caixa, exigindo das empresas planejamento dinâmico e medidas preventivas”, destacou o banco.
Custos de Produção
No acompanhamento do Cepea o poder de compra recuou em junho, mesmo com a desvalorização dos principais insumos da atividade avícola – milho e farelo de soja –, interrompendo o movimento de alta observado por dois meses consecutivos frente ao milho e por sete meses em relação ao farelo de soja.
Esse cenário foi resultado da intensa queda nos preços do frango vivo nas praças paulistas acompanhadas pelo Cepea.
No mercado de lotes da região de Campinas (SP), as quedas nos preços dos insumos foram de 4,9% para o farelo e de fortes 7% para o milho – as médias desses produtos passaram para respectivos R$ 1.705,35/tonelada e R$ 68,15/saca de 60 kg em junho.
Diante disso, em junho, a venda de um quilo do animal vivo possibilitou que avicultores comprassem 3,20 quilos do derivado de soja ou 4,8 quilos de milho, 8,2% e 6,2% a menos que no mês anterior.
Por outro lado, o Banco Itaú BBA pontuou que o momento segue sendo para um cenário positivo pelo fato de termos boas colheitas de soja e milho em 2025, além dos sinais favoráveis para a safra norte-americana, o que deve manter os custos sob controle e preservar margens saudáveis para o avicultor.
O Banco Itaú BBA aponta que a consolidação de uma safrinha de milho robusta reduz a chance de nova disparada nos preços do cereal, como a observada entre agosto do ano passado e março deste ano. O cenário atual é mais favorável sob a ótica dos compradores.
Quanto ao farelo de soja, a tendência é de continuidade da pressão sobre os preços, devido às boas safras no Brasil e na Argentina e ao aumento do esmagamento para atendimento ao programa de biodiesel no Brasil. Isso eleva a oferta do subproduto e limita a alta de preços, mesmo com a perspectiva positiva para o consumo de ração animal.