Por May Angel e Marcelo Teixeira
LONDRES/NOVA YORK (Reuters) – Os consumidores norte-americanos enfrentarão aumentos acentuados nos preços de alimentos básicos, como café e suco de laranja, se o governo Trump mantiver seu plano de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil, disseram comerciantes e especialistas na quinta-feira.
O presidente dos EUA, Donald Trump, lançou novas tarifas na quarta-feira, que incluíam o aumento das tarifas sobre as importações brasileiras de 10% para 50%, a partir de 1º de agosto, apesar de os EUA terem um superávit comercial de US$7,4 bilhões com o Brasil, de acordo com dados do U.S. Census Bureau.
Em termos de commodities agrícolas, o Brasil produz quase metade do café arábica do mundo e é, de longe, o maior produtor de suco de laranja do mundo, respondendo por 80% das exportações globais, segundo dados do setor.
É também o maior produtor de açúcar do mundo, mas não envia volumes significativos para os EUA.
“Com o consumo (de açúcar dos EUA) em 11,185 milhões de toneladas, um aumento de 50% em 312.000 toneladas de açúcar (do Brasil) não deve ter um grande impacto. O impacto maior será no café e no suco de laranja. Estou pensando também nos grãos de açaí”, disse o analista de açúcar Michael McDougall, ressaltando que Trump ainda pode voltar atrás em seu plano.
A esmagadora maioria das importações de açaí dos EUA vem do Brasil, o maior produtor do mundo, de acordo com um relatório da Grand View Research.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disse no mês passado durante uma audiência no Congresso que alguns recursos naturais que não estão disponíveis nos EUA, como frutas tropicais e especiarias, poderiam ser isentos de tarifas, dependendo das negociações com os países que os produzem e exportam.
“Não acho que seria economicamente viável vender café brasileiro para os EUA com a tarifa de 50%. Vamos ver como isso vai evoluir, mas seria muito complicado”, disse o diretor para o Brasil de uma grande trader global de commodities.
Cerca de um terço do café consumido nos EUA, o maior consumidor mundial da bebida, vem do Brasil, que nos últimos anos tem enviado cerca de 8 milhões de sacas de 60 kg por ano para o país, de acordo com grupos do setor.
Enquanto isso, mais da metade do suco de laranja vendido nos EUA vem do Brasil.
Os EUA se tornaram mais dependentes das importações de suco de laranja nos últimos anos devido a um declínio acentuado na produção doméstica, principalmente na Flórida, devido à doença greening, furacões e períodos de temperaturas congelantes.
Um relatório emitido pelo Departamento de Agricultura dos EUA no início deste ano previu que a safra de laranja dos EUA atingiria uma mínima de 88 anos na temporada 2024/25, enquanto a produção de suco de laranja cairia para uma baixa recorde.
O Brasil também exporta carne bovina para os EUA, e a tarifa foi bem recebida pelos produtores de gado dos EUA.
“Apoiamos totalmente essa tarifa sobre o Brasil. As exportações do Brasil (contribuíram) para o encolhimento do setor pecuário dos EUA. Precisamos reconstruir e reduzir a dependência de nosso país de alimentos importados. Esse é um passo na direção certa”, disse a R-CALF USA.
Em termos de energia, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol à base de cana ou milho.
O país sul-americano produziu cerca de 35 bilhões de litros de etanol em 2024, mas exportou menos de 6%, dos quais apenas cerca de 300 milhões de litros foram para os EUA, de acordo com um relatório do BTG Pactual (BVMF:BPAC11).
A Shell (NYSE:SHEL) está exposta ao mercado de biocombustíveis do Brasil por meio da Raízen (BVMF:RAIZ4), uma joint venture entre ela e o conglomerado brasileiro Cosan (BVMF:CSAN3), assim como a BP, agora proprietária integral de uma produtora brasileira de açúcar e etanol.